Para entender as instruções de um Mestre de Taijiquan (Tai Chi Chuan), é preciso entender quem são eles, e o que exatamente é a família Chen. Os Chen são um clã de militares profissionais – no sentido medieval da expressão. Chen Bu, o primeiro Chen na província de Henan, foi deslocado para lá para “limpar a região de bandidos”, depois de uma rebelião. Chen Wangting era um Senhor da Guerra, e foi comandante na guerra civil que antecedeu a queda da dinastia Ming. Chen Changxing era escolta de caravanas comerciais, e os Chen da 15ª geração lideraram a resistencia aos rebeldes Taiping no condado de Wen. Estas pessoas praticavam Taijiquan (Tai Chi Chuan) desde a infância para serem militares.
A isto, devemos somar a idéia que os chineses faziam tradicionalmente do progresso profissional durante a vida: do nascimento aos 20 anos de idade, um chinês era considerado quase uma criança; dos 20 aos 40, ele estava aprendendo seu ofício, dos 40 aos 60 ele estava na fase produtiva da sua vida, e dos 60 aos 80 ele estava aposentado.
Isto contrasta fortemente com a idéia ocidental de que aos 24 anos o jovem já deve ser independente e produtivo. Tradicionalmente, não se esperava isto de um jovem chines – era esperado que ele morasse na propriedade da família até em torno dos 40 anos, isso se chegasse a se mudar um dia. Esta conjuntura permitia aos jovens da família Chen um longo tempo de treinamento, sem que eles tivessem que se preocupar em produzir desde cedo; assim, eles podiam dedicar-se ao treinamento da sua arte.
Tendo mantido o corpo em forma desde a infância, um descendente dos Chen começava a treinar Taijiquan (Tai Chi Chuan) intensivamente – em tempo integral – em torno dos 16 anos, e em torno do 40 estava pronto. Repare que os atuais Mestres de Taijiquan (Tai Chi Chuan) da 20ª geração da família só se tornaram conhecidos mais ou menos com esta idade, após mais de 20 anos treinando como profissionais.
Adicionalmente, o ensino de uma arte familiar como o Taijiquan (Tai Chi Chuan) não segue o padrão de ensino de massa. Um Mestre da familia Chen foi ensinado diretamente pelo seu pai ou pelo seu tio, e a forma de ensino numa condição assim é radicalmente diferente do ensino convencional. Uma enorme quantidade de informações não precisa ser transmitida verbalmente, nem precisa ser tornada explícita.
Numa arte familiar, entende-se que não existe algo como certo-e-errado. Não existem provas, nem diplomas, então, quando um Mestre diz que algo “está certo”, quer dizer que está bom para aquele aluno, naquela fase do aprendizado dele.
Sobre isto tudo, precisamos considerar o contexto da aula. Numa seminário de Taijiquan (Tai Chi Chuan) com 30 ou 60 pessoas, a quantidade de atenção individual que um Mestre consegue oferecer tem um limite. Por um lado, ele não precisa dar instruções precisas, porque ele vai corrigir cada participante; por outro lado, ele está limitado no tempo que gasta com cada participante.
Onde a aula foi dada também faz grande diferença. Uma aula em Chenjiagou, mesmo para um ocidental, supõe implicitamente o grau de dedicação e compromisso daquele aluno, que investiu o tempo, energia e recursos necessários para a viagem.
Um Mestre Chen teve uma educação estrita numa sociedade que segue as regras confucionistas de comportamento. Ele toma determinados cuidados ao ensinar Taijiquan (Tai Chi Chuan) em público, por exemplo evitar humilhar publicamente um participante. Até a idade do Mestre, e a posição hierárquica dele na família, influi no modo que ele dá uma resposta, por causa dessas regras.