Raiz e Manifestação

Há duas falhas de compreensão principais que eu acredito estarem ligadas a uma diferença cultural sutil entre a China e Ocidente, mas que pode ter um impacto importante na forma como nós ouvimos instruções do Mestres de Taijiquan (Tai Chi Chuan). Trata-se da forma como as relações causais são percebidas nas duas culturas. Isto está expresso na idéia de raiz e manifestação. Entrei em contato com este conceito ao estudar Acupuntura, mas foi somente praticando Taijiquan (Tai Chi Chuan) e convivendo com meu Shifu, Chen Yingjun, que compreendi conceito. Uma boa forma de abordar inicialmente esta idéia é pensar numa árvore, onde raiz significa a raiz mesmo, e a parte visível da árvore – o tronco e a copa – é a manifestação. Ambos são partes da árvore, e não existe uma relação causal compartimentada entre raiz e copa. Por outro lado, o que deve ser cultivado para que você tenha uma árvore frondosa é a raiz, e não diretamente a copa.
Como nós, Ocidentais, não estamos habituados a pensar desta forma, às vezes temos dificuldades em distinguir claramente o que devemos fazer daquilo que estamos buscando. Embora seja raro que um Mestre da família Chen expresse verbalmente a diferença entre método de treinamento e resultado, a diferença fica clara através da didática e do reflexo da filosofia na prática.

O problema da confusão entre método e resultado ocorre muito frequentemente, em várias situações. O Mestre diz “isso deve ser deste ou daquele jeito”, e ao invés de cultivar a raiz, que é o método de prática, alguns alunos tentar copiar os resultados.

O Daodejing 38 diz:

A mais alta virtude nada faz, mas nada fica por fazer. A virtude inferior faz tudo, mas muito fica por ser feito.
Assim, quando o Dao é perdido, vem a virtude.
Quando a virtude é perdida, vem a benevolência.
Quando a benevolência é perdida, vem o que é correto.
Quando a retidão é perdida, vem os rituais.
Os rituais são o fim da fidelidade e da honestidade, e o início da confusão.

Listas de dezenas pequenas regras são o fim da fidelidade e o inicio da confusão.

Esclareçamos então como Taijiquan (Tai Chi Chuan) é ensinado. O método de ensino da familia Chen consiste de três partes inseparáveis:

  1. Explicar a teoria
  2. Demonstrar para o aluno, que pode estar copiando (seguindo) ou observando.
  3. Corrigir o aluno, na postura ou durante o movimento.

Estas três partes são inseparáveis.

Através dos ensinamento os alunos devem compreender onde o método de prática deve levá-los, mas os ensinamentos não são o método de prática em si. O método consiste apenas dois procedimentos que o aluno deve realizar: quando estiver parado, e quando estiver se movendo. Cada um destes procedimentos pode ser, por sua vez, dividido em duas partes.

  1. Quando parado, o aluno manter a postura em que o professor o colocou, sem desviar-se dela. A segunda parte é: uma vez que o aluno consiga manter a postura, ele deve meditar.
  2. Quando movendo-se, o aluno deve comandar o corpo com o seu cérebro do modo como o professor ensinou. A segunda parte é: uma vez que ele se acostume a fazer isto, deve sincronizar o movimento das extremidades com o centro, cada vez mais precisamente.

Se o professor conhece Taijiquan (Tai Chi Chuan) bem o suficiente, somente estes dois procedimentos são necessários para a formação do centro. A postura e o movimento de cada aluno devem ser ajustados individualmente. Deve estar claro na mente do aluno que o método de prática é a raiz, e a habilidade nos princípios é a manifestação.