por Kimberly Ivy, discípula de 20ª geração do Grão-Mestre Chen Xiaowang
Uma relação de corpo e alma com a vida é cultivada através de uma série de práticas com um escopo maior que apenas a mera aquisição de habilidades ou técnicas.
— Bill Plotkin, em Soulcraft
Como meus alunos bem sabem, eu e eles evitamos os espelhos durante a prática de Taijiquan (Tai Chi Chuan) e Qigong. Em parte, isto se deve a um hábito – eu não aprendi com espelhos em nenhuma das escolas onde treinei, e em parte é uma preferência pessoal – eu prefiro concentrar-me na sensação em vez de numa imagem, e eu acho que os espelhos causam distração neste caso. No entanto, ocasionalmente eu dou aulas em locais que têm espelhos, como em academias por exemplo. Eu dou uma olhada, e é claro que vejo um desalinhamento do quadril aqui, ou um ombro levantando ali. Eu tenho que admitir que espelhos têm uma certa eficácia.
Neste final de semana eu fui com meu marido à sua academia de ginástica. O local estava bem calmo e quieto, e havia uma grande área na frente, com uma parede toda espelhada, totalmente livre. Eu pensei, “por que não? Vou praticar a forma completa (não ensinando) e dar uma boa olhada”. Depois de começar, minha primeira impressão foi, “eu não gosto de praticar Taijiquan (Tai Chi Chuan) com calças de lycra”. Meu segundo pensamento foi “isto é tão divertido quanto ficar pelada na frente de um espelho”. Meu terceiro, “é por causa destes pensamentos que eu não treino com espelhos”. Ao mesmo tempo, eu reconheci que era um desafio válido, e depois do segundo movimento eu tinha entrado no clima. 25 minutos mais tarde, eu terminei a forma e refleti sobre a minha experiência.
Eu aprendi principalmente o que eu já sabia. Eu tenho um desalinhamento de quadril nos movimentos 3, 7 e 25, uma pequena confusão na coreografia no meio da forma, meu tronco se desarmoniza do quadril duas vezes, e eu giro o corpo incorretamente quando ando para trás. Estas informações foram reforços úteis para mim, é sempre útil saber destas coisas. Bem, vou continuar trabalhando nelas. Além disso, o que eu descobri foi que eu não tive nenhuma experiência de fluir: meus 25 minutos foram completamente analíticos. Isto não é ruim em si, mas se ter uma forma perfeitamente analisada fosse a única razão para praticar, eu nunca teria interesse em treinar mais de 25 minutos. Eu não quero dizer práticas diárias de 25 minutos, eu quero dizer que tudo que treinaria na vida seriam aqueles 25 minutos.
Em contraste, eu e meu marido Kevin fomos ao Discovery Park (Seattle) no primeiro dia do ano. O templo estava chuvoso e frio, mas nós queríamos ficar um pouco em frente ao Pudget Sound. Nos começamos a praticar Taijiquan (Tai Chi Chuan), só por diversão na verdade, sem intenções de fazer qualquer coisa que merecesse uma foto. Em alguns minutos duas águias voaram baixo sobre nós, e começaram a voar em círculos e a brincar entre si. As águias que mergulhavam e plananvam, a água próxima, e as gotículas de chuvisco tornaram-se parte da nossa prática. O tempo passou, e eu não sei quanto ficamos ali até que nossos pés gelados nos levassem de volta ao carro e à nossa casa em busca de roupas secas.
Ao sentarmos no carro, com o aquecimento ligado, nós dois respiramos e sorrimos, e e começamos a conversar sobre as águias. Na nossa conversa, todo o Qi que nós sentimos pulsar pelos nossos corpos e como nós nos sentimos conectados à natureza fria e úmida ao nosso redor. Eu estou certa de que o meu quadril estava desalinhado aqui e ali, que o meu alinhamento físico precisava de algumas correções, mas eu realmente não me importava com isto. A sensação de fluidez e conexão era infinitamente mais importante para mim.
Estas duas experiências justapostas revelaram-me que provavelmente há espaço para os dois tipos de prática nas nossas vidas: analítica, e intuitiva. Certamente nós nos esforçamos por melhorar nossa forma para melhorarmos nossa fluidez. Ao mesmo tempo, permaneço convicta de que a prática verdadeira – a prática que nos conecta de mais modos que a uma forma física – é mais forte quando desenvolvida dedicando tempo à nossa visão interior, do que à visão exterior.
Que a sua inspiração se manifeste!