Por que ir à China, especialmente agora, se temos mestres de Taijiquan (Tai Chi Chuan) de alto nível vindo regularmente ao Brasil para ministrar seminários?
Uma viagem do Brasil à China é longa: para chegar em Pequim, saindo do Rio de Janeiro, leva-se perto de 40 horas, contando o tempo de aeroporto. Depois disso, pernoita-se em Pequim, para no dia seguinte pegar um vôo de mais uma hora e meia até Zhengzhou, a capital da província de Henan, e então uma hora e meia de carro até Wenxian ou Chenjiagou. São 11 horas de fuso horário, duas noites sem dormir direito, para chegar num país cuja língua não se fala, de hábitos diversos dos nossos, acomodações espartanas e alimentação diferente.
Chenjiagou quer dizer, literalmente, “vala da família Chen”. O nome refere-se à uma vala de irrigação, que possibilitou a fixação de Chen Bu e sua família no condado de Wen. Eu tirei a foto acima dentro da vala, por onde pode-se caminhar. É um local turístico, pois foi nesse local que os generais da 15ª geração da família Chen conseguiram, em desvantagem numérica de dez para um, atrasar o avanço dos Taiping, evitando o massacre da população local.
Isto diz muito sobre o por quê de vir para o outro lado do mundo. Quem pratica e ama o Taijiquan (Tai Chi Chuan) precisa, ainda que uma vez, vir ao berço da sua arte para sentir a energia do lugar, para ver e treinar na escola dos descendentes dos Chen, para beber direto da fonte. A proficiência técnica não dá nenhum salto ao chegar aqui: isto depende da regularidade do encontro com os mestres, e da regularidade da prática pessoal. Mas o espírito sim, este dá um salto, impulsionado pela inspiração infundida pela experiência em primeira mão.