Quando alguém começa a praticar Taijiquan (Tai Chi Chuan), é natural que se sinta um pouco perdido. Tomo aqui como premissa que o aluno tenha acesso regular a um professor saiba o que está fazendo – que conheça bem o suficiente a técnica, que já tenha conseguido alguma transformação no seu próprio corpo, e que tenha algum bom senso (é impossível ser autodidata em Taijiquan (Tai Chi Chuan)). As correções que o professor faz no aluno são muito novas para o corpo dele, mesmo que ele já tenha praticado outras artes marciais por bastante tempo. Esta sensação de encontrar algo completamente novo acontece porque a estrutura que o Taijiquan (Tai Chi Chuan) constrói dentro do corpo humano e a forma como isto é feito são muito particulares, não acredito que haja outro sistema de movimento parecido – e digo isto sem julgamento algum de mérito, apenas chamo atenção para o caráter único do Taijiquan (Tai Chi Chuan).
Eventualmente o aluno toma conhecimento de que é imperativo que ele pratique, pelo menos um pouco, por conta própria. A primeira providência que o aluno tende a tomar é tentar copiar as correções que o professor lhe fez durante a aula. Isto é um erro, porque é impossível copiar as correções. Se fosse possível copiá-las, o aluno deixaria de precisar do professor instantaneamente. Logo o aluno vê que não consegue copiar as correções, ou o próprio professore lhe explica isto.
O aluno então depara-se com um dilema: o que fazer? É necessário praticar, mas não é possível copiar as correções, então como praticar? É aconselhável praticar “errado”? Se eu praticar antes de atingir um determinado nível de técnica, não estarei habituando meu corpo a algo errado?
Em primeiro lugar, é preciso compreender que o mais produtivo para o aprendizado não é pensar em termos de certo e errado. O aluno está “errado” em relação ao professor, mas o professor está “errado” em relação a um mestre. E na verdade, existem muito mais degraus do que aluno-professor-mestre, e quem é mais novo está “errado” em relação ao mais experiente. Portanto, o professor poderia pensar, “como posso praticar sozinho se estou errado em relação ao mestre”? Isto mostra que é ilógico pensar nestes termos. Pensar assim é pensar em termos estáticos.
Pensar em termos de certo e errado é um resquício do nosso sistema educacional, que nos treina para pensar desta forma. O aprendizado de uma arte tradicional, numa relação mentor-discípulo, não se dá desta forma – mesmo que haja um sistema de graduação, como as faixas das artes japonesas.
A melhor forma de abordar a questão é pensar em termos dinâmicos: o que é importante é se o aprendizado está se dando na direção certa. Para chegar a isto, o aluno pode usar alguns artifícios, inicialmente, como tentar perceber se o que ele faz hoje é melhor do que o que ele fazia alguns meses atrás. Ou, durante uma aula, ao receber uma correção e ficar dúvida se está conseguindo absorver algo, perguntar “isto é melhor do que o que eu fazia antes”, ao mostrar ao professor. Depois de algum tempo, estes artifícios são desnecessários, conforme uma ótica mais dinâmica do aprendizado se torna natural.
A prática dos exercícios propriamente ditos também requer alguma explicação. Não é possível nem produtivo tentar copiar as correções que o professor faz, mas é claro que há um modo de treinar por conta própria:
Ao praticar com um professor que segue a didática criada pelo Grão-Mestre Chen Xiaowang, o aluno ouve sempre as mesmas instruções no início da aula. As frases que compõem estas instruções transmitem o que o aluno deve fazer durante sua prática. Ao treinar, ele deve começar repetindo as mesmas frases mentalmente quando entra no Zhanzhuang, e deve seguir as instruções.
Além disso, o aluno deve procurar reproduzir a sensação de estar centrado, equilibrado e relaxado que obtém após as correções do professor. Já escrevemos que não se deve procurar as sensações – mas isto refere-se às sensações de circulação da energia. Estar centrado, equilibrado, estável e relaxado faz parte do objetivo final da prática, e deve ser buscado tendo como referência a sensação de estabilidade após as correções em aula.
Finalmente, o aluno deve compreender que, desde que esteja bem orientado, não é preciso preocupar-se em viciar o corpo em uma postura “errada” quando pratica sozinho, por dois motivos:
Primeiro, a postura habitual que o corpo tem no cotidiano é bem mais viciada do que a postura que qualquer um adota quando pratica, por menos experiência de treino que tenha. Assim, qualquer tempo dispendido praticando é positivo, pois a postura será melhor que a do cotidiano. Segundo, praticar sozinho, ainda que numa postura bem aquém daquela em que o professor o coloca, é a única forma pela qual o aluno pode construir uma referência interna da própria postura. Na próxima aula, seu corpo terá um parâmetro de comparação, para que possa migrar naturalmente em direção à postura que o professor está ensinando. Isto se repete ciclicamente de aula em aula, se o aluno praticar sozinho, e é assim que se progride.